Uma Receita do Chef Alejandra Pais – Bio Restaurant

Com os meus pais, há 16 anos administro o primeiro restaurante orgânico certificado da América Latina, e me dá muito orgulho: num país como a Argentina, onde reina a Monsanto e os campos são minados com transgênicos e agrotóxicos, valorizar um produto orgânico é um ato revolucionário.

A minha paixão pela comida nasceu quase por acaso, principalmente graças ao estilo de vida que os meus pais me transmitiram.

Na geladeira da minha casa nunca entraram produtos industrializados, pré-embalados ou congelados. Semanalmente, minha mãe ia para a Faculdade de Agronomia para comprar verduras e frutas orgânicas numa feirinha organizada pelos estudantes. Eu sempre adorava ver minha mãe cozinhando para os nossos amigos e convidados. Ela apresentava os produtos escolhidos, explicava onde encontrá-los e até como não desperdiçá-los e, aos poucos, eles também começavam a comprar. Hoje, devo à minha mãe o fato de eu ser cozinheira, foi ela que me ensinou a cozinhar com o que tinha em casa.

O nosso restaurante é muito atento para evitar qualquer desperdício. Começamos oferecendo um prato por dia, preparado com ingredientes que em pouco tempo teriam sido inutilizados, jogados fora e, portanto, desperdiçados. Hoje temos até um pequeno cardápio “anti-desperdício”.

Também organizamos cursos de cozinha, onde os participantes são convidados a inventar receitas com produtos surpresa. Adoro despertar a criatividade e a imaginação! Fazer redescobrir o prazer do paladar que perdemos com todo o glutamato monossódico que a indústria nos despeja.

Entre as matérias-primas mais importantes de nosso cardápio, estão os produtos locais e também as frutas argentinas hoje quase esquecidas. Há cada vez menos variedades de frutas e verduras no mercado. Tudo se reduz a simples “alface, tomate, abóbora, cebola”. Os agricultores cultivam segundo as exigências do mercado, por isso é importante levantar a voz, conscientizar sobre a importância de saber o que se come, de onde vem, como foi produzido.

Através de nossas receitas, queremos apresentar diversas variedades. É bom pensar que podemos ajudar os argentinos a conhecer mais o país, mas também a defender a biodiversidade local, fazendo com que os agricultores sejam estimulados a preservar a biodiversidade.

Quero sugerir a todos uma receita de um molho agridoce, fácil e delicioso: um chutney de mistol.

O mistol é uma fruta nativa, que faz parte da Arca do Gosto, consumido também pelas populações indígenas do Chaco. As frutas lembram as jabuticabas ou as cerejas vermelhas bem firmes, de sabor ácido. Março é a época em que o mistol é encontrado no mercado.

 

Ingredientes

  •  200 gramas de mistol
  •  2 cebolas médias
  •  1 pau de canela
  •  2 cravos da Índia
  •  2 sementes de cardamomo
  •  meia xícara de vinagre de maçã
  •  sal e pimenta-do-reino

Modo de preparar

Refogar a cebola até ficar dourada, adicionar as frutas inteiras e os demais ingredientes, deixando cozinhar em fogo brando e sem tampa até evaporar todo o líquido.

Deixar esfriar. Pode ser conservado na geladeira até seis meses.

Se não for encontrado, o mistol pode ser substituído por outras frutas (manga, ameixa, cereja, abacaxi, pêssego, maçã) e também por cebola, uva-passa, abobrinha, tomate, berinjela.

Excelente para acompanhar carne, peixe ou arroz.

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