Depois de três anos de trabalho, oito eventos internacionais do ITM em 5 países, atividades com 10 Fortalezas e uma pandemia global, o projeto do FIDA e Slow Food “Empoderamento dos Jovens Indígenas e de suas Comunidades para a Defesa e Promoção do seu Patrimônio Alimentar”, está próximo do fim, e os resultados são incalculáveis.
O objetivo principal do projeto era o empoderamento dos jovens indígenas, para proteger e promover seu patrimônio alimentar. Desde o ano de 2017, quando foi lançado o projeto, mais de 325 jovens indígenas participaram de atividades de formação e oficinas organizadas por jovens indígenas.
Mas vamos dar um passo atrás: por que foco nos jovens indígenas?
Por que os jovens indígenas
“Pertencer a uma comunidade nativa não significa que somos pobres. Geralmente, nas comunidades indígenas, temos muita riqueza, mas nos falta o conhecimento de como aproveitá-la” Micaela García Reyes, produtora de Pulque, Fortaleza da Agave Oaxaca Mixteca
Em todo o mundo, os povos indígenas são os guardiões de grandes áreas naturais, os hotspots de biodiversidade. Preservar seu sustento significa preservar a biodiversidade mundial, um tema muito importante, hoje mais do que nunca. Entretanto, os jovens indígenas enfrentam um grande dilema: procurar educação e emprego em cidades distantes de suas casas, ou manter suas raízes em suas comunidades, assumindo a responsabilidade de defender suas terras e cultura? Criar melhores condições de vida, do ponto de vista econômico e social, é fundamental para que os jovens indígenas possam ficar em suas comunidades, ou pelo menos proteger suas terras e contribuir para encontrar uma solução ao dilema.
O objetivo das oficinas e das atividades de formação era a troca de competências e ferramentas entre participantes, e o uso dos conhecimento recém-adquiridos no contexto do aprimoramento das cadeias de valor de alimentos tradicionais, das atividades de advocacia, comunicação e captação de recursos. Oito eventos[1] de desenvolvimento de competências foram organizados em cinco países (Quênia, Itália, México, Japão e República Democrática do Congo) e nas comunidades de jovens, em seus projetos das Fortalezas Slow Food.
Durante esse tempo, desenvolvemos um estudo de caso para acompanhar os participantes e entender o impacto de um projeto como este: como produz mudanças positivas e negativas na vida dos participantes e como as mudanças podem ser duradouras.
Foram muitas as atividades ao longo dos três anos e, para além dos dados oficiais finais, as atividades originaram muitos outros resultados colaterais. Por exemplo, a criação de 125 comunidades indígenas Slow Food, que destacaram o interesse dos participantes em manter viva a rede, depois de voltar para suas comunidades.
Experiências que mudam a vida
“A oficina realmente teve um grande impacto na minha vida, agora tenho a capacidade de administrar uma campanha de proteção, agora sei sentar e redigir uma proposta, agora tenho a capacidade de fazer muito em meu nível de base, faço parte da juventude indígena” Winnie Sengwer, jovem Sengewr, da comunidade Slow Food do mel puro de Sengwer
A maioria dos jovens indígenas que participaram dos eventos, consideraram a participação como uma experiência de mudança de vida e de empodermento.
Em vários casos, a participação de um evento Slow Food também abriu oportunidades antes inimagináveis, e contribuiu para o empoderamento pessoal dos participantes. Por exemplo, o convite para fazer parte do Conselho Consultivo do Indigenous Terra Madre (ITM), e a oficina de desenvolvimento de capacidades, tiveram como resultados:
- a inscrição de oito delegados num projeto da Slow Food Academy, apoiado pelo Agro-Ecology Fund (Fundo de Agroecologia) para um treinamento de seis meses;
- dois delegados se tornam membros, respectivamente: do Fórum Internacional Indígena sobre Biodiversidade da Convenção sobre Diversidade Biológica, e dos Encontros Regionais Preparatórios para o Fórum do FIDA para os Povos Indígenas e do Comitê de Pilotagem do Fórum do FIDA para os jovens;
- um delegado que ganhou a participação no Indigenous Fellowship Program, oferecido pelo Escritório do Alto Comissário para os Direitos Humanos; outro delegado que se tornou delegado da Associação de Mulheres Ainu para a reunião regional Ásia-Pacífico para a Revisão Pequim+25.
Encontrando pares e trocando experiências
“O encontro com outros povos indígenas foi realmente motivador, no sentido de que me deu força para continuar, porque, às vezes, na vida, encontramos grandes barreiras que podem fechar portas, só pelo fato de sermos indígenas” Claudia Ruiz Sántiz, Joven Tsotsil, Investigadores Gastronômicos de Chiapas, San Cristobal de las Casas
Mas, principalmente, os eventos foram uma oportunidade para os jovens indígenas de encontrar seus pares de outros lugares, de construir e trocar conhecimentos.
Os eventos foram uma oportunidade para os participantes aprenderem e compreenderem como os povos indígenas do mundo inteiro enfrentam desafios semelhantes, quais seus direitos e como podem juntar forças, colocando na prática os princípios e iniciativas do Slow Food. Também transmitiram novo entusiasmo aos jovens indígenas, para seguirem o seu caminho de seu empoderamento.
De modo geral, os eventos contribuíram para conscientizar um amplo público sobre os temas dos Povos Indígenas e o Slow Food. Foram também uma oportunidade, para povos indígenas e não-indígenas, de se conhecerem melhor, de confiar e respeitar uns aos outros.
Ampliando a rede
A rede ITM envolve milhares de indivíduos em mais de 370 comunidades em 86 países do mundo inteiro.
Ser membro do movimento Slow Food significa estar conectado com redes locais e mais abrangentes, úteis para apoiar os jovens indígenas em seu ativismo alimentar, o que é fundamental para a sustentabilidade do projeto quando terminar: graças a essas pontes, os jovens poderão continuar seu ativismo alimentar e intensificar as conexões.
Como mencionado anteriormente, a maioria dos participantes permaneceu de forma ativa na rede após os eventos, apesar das dificuldades de conexão dos que vivem em comunidades remotas.
Empoderamento das jovens mulheres
“Eu diria que aprendi mais em cinco dias do que em mais de 20 anos” Thresa Bwalya, jovem Bemba, rede Slow Food Zâmbia
Jovens mulheres indígenas lideraram ou co-lideraram os três eventos regionais do ITM, colocando a igualdade de gênero nos resultados positivos do projeto. As jovens mulheres participaram ativamente na maioria dos projetos, apesar das barreiras culturais de alguns países, onde atividades como a caça e a colheita eram tradicionalmente realizadas pelos homens.
Concluindo, o projeto alcançou resultados mais profundos do que suas metas, mostrando mais uma vez que as diversidades culturais são simplesmente uma força quando canalizadas num ambiente positivo e construtivo.
As atividades doaram a participantes e organizadores muitas lições e ideias que podem ser facilmente aplicadas em outras iniciativas semelhantes, mas também oportunidades de mudar a vida para os participantes, e lições de vida para todos.
O projeto foi o resultado de uma longa parceria entre o Slow Food e o FIDA. Infelizmente, como o surto da pandemia global, os efeitos da crise atingiram também a eficácia das atividades finais do projeto a nível comunitário, uma vez que qualquer tipo de reunião social foi suspenso a partir de março de 2020. Muitos grupos indígenas se depararam com situações dramáticas devido ao confinamento (conflitos comunitários, insegurança alimentar, acesso limitado ou inexistente aos serviços de saúde, etc.). O Slow Food está estudando e desenvolvendo novas ferramentas e abordagens, inclusive a partir das sugestões dos membros do Conselho do ITM, para permitir que as redes e os mecanismos de compartilhamento de conhecimentos existentes continuem ativos, inclusivos e eficazes e que até ampliem seu porte neste novo cenário global.
Uma versão resumida deste estudo de caso está acessível no link. Para a versão completa, clique aqui.
Para artigos sobre os eventos e o projeto:
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A colaboração entre o Slow Food e o FIDA começou em 2009, com foco na produção diversificada e de pequena escala e em mecanismos de consumo baseados no aprimoramento da comercialização de produtos locais. Tais mecanismos refletem os princípios de qualidade, biodiversidade e preservação ambiental. Também garantem um preço justo dos produtos agrícolas, que compensa adequadamente o trabalho das famílias de pequenos produtores.
O FIDA investe na população rural, empoderando-a para reduzir a pobreza, melhorar a segurança alimentar, melhorar a nutrição e aumentar a resiliência. Desde o ano de 1978, contribuímos com cerca de 17,7 bilhões de dólares em doações e empréstimos, com baixa taxa de juros, para projetos envolvendo cerca de 459 milhões de pessoas. O FIDA é uma instituição financeira internacional e uma agência especializada das Nações Unidas com sede em Roma – o hub sobre alimentação e agricultura da ONU.