Uma dupla abertura
21 Jun 2018

Com o Congresso Internacional de Chengdu, ratificou-se a necessidade de transformar o movimento Slow Food. Ao primeiro Conselho internacional após o Congresso, que aconteceu em Nairóbi, Quênia, de 15 a 17 de junho, coube recolher todos os estímulos políticos e culturais de Chengdu, para dar uma orientação à mudança, dando início à fase de transição, que será completada no outono de 2020, quando a rede mundial do Slow Food será chamada a celebrar novamente o próprio Congresso.
A mudança
“Em 2004, o Terra Madre provocou uma mudança revolucionária em nosso movimento. O Terra Madre é, e continua sendo, expressão das comunidades do alimento, cuja atuação local tinha a ver com a convicção de que havia uma partida a ser jogada em nível planetário: contra as multinacionais, contra quem detém o poder, sobre a agricultura, água, terra, sementes. A nossa reposta: trabalhar para apoiar formas de economia local capazes de defender a biodiversidade, o bem comum, o respeito ao meio ambiente”. Foi assim que Carlo Petrini abriu os trabalhos do Conselho, acrescentando ainda: “Mas se a economia local não for parte de uma rede mundial, ela não terá força”.
A partir de 2004, aos poucos, foi iniciado um processo de mudança, com a chegada de novos líderes e uma atualização dos objetivos da associação, que levou a considerar a constante necessidade de renovação, respondendo aos cada vez maiores desafios dos dias de hoje. Acrescentou ainda Carlo Petrini: “Uma característica do Slow Food é estar numa posição de escuta, defendendo a biodiversidade alimentar e a diversidade cultural, que é a sua expressão mais autêntica, com o Indigenous Terra Madre sendo um dos eventos mais significativos”.
“O Congresso de Chengdu foi o mais inovador e corajoso para o nosso movimento. Ficou claro como nunca antes, que o movimento está presente e arraigado localmente em todos os países, com suas diversas formas de atuação, com a capacidade de interpretar a diversidade, vivenciando-a localmente com total dignidade. E mais do que nunca ficou clara a necessidade de procurar uma mudança, ainda que traumática, mas sem medo. Ficou claro que não somos uma associação tradicional, não somos uma ONG, mas um movimento que trabalha criando uma rede, e que é a rede que representa a nossa maior riqueza. Em Chengdu escolhemos o modelo organizacional da comunidade”.
A comunidade
O termo “comunidade” não é novo na história do Slow Food e, de modo geral, não é novo na história da civilização. Comunidade vem do latim, communitas, e indica a capacidade de ter em comum, de compartilhar: experiências, problemas, recursos, conhecimentos, mas também uma forma de atuar e interconectar-se. No coração da ideia de comunidade há o bem comum, ligado ao alimento, ao meio ambiente, à sociabilidade, à espiritualidade. E o seu elemento principal é a segurança afetiva. “Ao longo dos séculos, as comunidades determinaram a mudança, a reconstrução e a regeneração da economia, a adaptação às diversas situações, manifestaram a capacidade de enfrentar desafios”.
“Com o Congresso de Chengdu, começamos a aproximar as comunidades aos convivia, pois o processo evolutivo não acontece por fraturas e rupturas, deve ser facilitado de modo natural, mas é claro que precisamos trabalhar para a inclusão e para sermos uma rede única, para favorecer alianças. As comunidades já existem, e muitas estarão presentes em Turim, por ocasião da próxima edição do Terra Madre Salone del Gusto, como muitas outras já participaram no passado. Incluí-las, “recensear” finalmente as pessoas que formam o nosso movimento, significa conseguir descrever, com maior precisão, o impacto, a difusão, a identidade”.
A dupla abertura
Se o objetivo é iniciar a transição, há dois elementos importantes sobre os quais refletir.
“O conhecimento e o saber, com a convicção de que os conhecimentos tradicionais são importantes quanto os conhecimentos acadêmicos. Todos os depositários de conhecimentos são docentes: os agricultores, as comunidades indígenas. A pedagogia também pertence aos humildes, aos mais fracos, não é prerrogativa das universidades tradicionais. Ao mesmo tempo, agricultores, indígenas, humildes, são todos os sujeitos que precisamos incluir em nossas comunidades. Precisamos abrir-nos, mais do que nunca, para essa humanidade, tendo plena consciência da atitude que tomamos: contra a violência, contra o predomínio, em favor dos diretos dos humildes”.
“Temos muito trabalho pela frente, mas não partimos de zero. Podemos iniciar com o que já temos, com projetos como a Arca do Gosto e as Fortalezas, a Aliança de Cozinheiros, os Mercados da Terra, as hortas, as redes já ativas do movimento… Não devemos esquecer que são as ideias que mudam o mundo: hoje estamos construindo a maior aventura, porque estamos rompendo com os paradigmas, a exclusividade, as categorias econômicas. Hoje saímos daqui com o dever de envolver todo o movimento. Assim realizaremos o Slow Food 2.0, assim realizaremos uma rede mundial única no mundo”. Foi com essas palavras que Carlo Petrini concluiu os trabalhos, domingo, dia 17 de junho, lembrando a todos as datas de 20 a 24 de setembro, em Turim, com a nova edição do Terra Madre Salone del Gusto.
Em poucos dias, o documento dedicado à constituição das Comunidades Slow Food, emendado e aprovado pelo Conselho internacional de Nairóbi, será publicado no site do Slow Food em diversas línguas, para que todos possam ter acesso.
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