Um produtor de capim diferente

23 Out 2018

 width=Matheus Sborgia tem 28 anos, nasceu em São Simão, cidadezinha no interior do Estado de São Paulo. Ex-confiteiro e formado pela Universidade de Ciências Gastronômicas de Pollenzo, Matheus viajou pelo mundo durante 11 anos, até finalmente decidir voltar para casa, dando início à aventura de sua vida – tornando-se agricultor.

Tudo começou quando Matheus foi para a Austrália, onde começou sua carreira na gastronomia. Lá passou anos, estudando e aperfeiçoando as técnicas de confeitaria em restaurantes de nível, antes de mergulhar numa experiência inesquecível no restaurante Noma, na Dinamarca. “No Moma, a cena alimentar é totalmente diferente, e comecei a ver a comida de uma nova perspectiva”, afirma Matheus.

Depois de passar longas horas em diversas cozinhas, começou a se questionar sobre o futuro. “Voltar para a universidade era o meu sonho, mas eu não conhecia nenhum lugar onde eu pudesse combinar a minha experiência alimentar com os interesses acadêmicos”.

Foi quando soube da Universidade de Ciências Gastronômicas, um lugar onde a gastronomia não é considerada uma ideia exclusiva dos restaurantes de luxo, onde os alimentos não são transformados apenas em pratos incrivelmente caros, restaurantes elegantes e elitismo. A gastronomia, ao contrário, é considerada um elemento fundamental da história, cultura e tradições, destacando a importância de agricultores, das famílias e, em particular, das mulheres na transmissão de nossas tradições. A gastronomia é um ato agrícola, define nossas identidades, preserva a biodiversidade e deve ser acessível a todos.

Nos anos que Matheus passou na Itália, aproximou-se do solo, e começou a valorizar as coisas simples da vida, e a comida passou a se tornar o centro de tudo. “Me dei conta da importância dos agricultores e pequenos produtores, para a saúde e fertilidade do solo”.

 width=Cerca de dois anos atrás, Matheus herdou de seu avô uma fazenda, que hoje ele chamou de Terras Caipora. Caipora é uma personagem da mitologia tupi-guarani, conhecido por ser guardião de animais e florestas. Seu objetivo principal é cuidar da terra através da rotação dos pastos. Matheus passou anos estudando formas de criar sistemas de cultivo capazes de alimentar as pessoas e o solo, uma filosofia que agora está colocando na prática, e que foi fonte de inspiração para o nome da fazenda.

A produção animal, no Brasil, em particular de gado, utiliza amplas parcelas de terra, muitas das quais são o resultado do desmatamento. Hoje, o Brasil está numa situação de risco, devido à perda de biodiversidade e à degradação de grandes áreas. A missão de Matheus é reverter a situação, produzindo respeitando os ritmos da natureza e dos animais. Outra questão importante é a mudança climática, e a produção animal é considerada, com frequência, uma das principais causas desse problema global.

Se interessados, não deixem de visitar o interessantíssimo projeto

Mas é importante explicar com clareza a responsabilidade das criações de gado na mudança climática que, na maioria das vezes, não depende obrigatoriamente da criação de animais em si, mas de como os homens lidam com ela. “A criação intensiva é longe de ser sustentável”, declara Matheus. Os herbívoros desempenham um papel importantíssimo para a paisagem e, se manejados de forma atenta, eles podem ajudar a reconstituir o solo.

Herbívoros e capins coexistem numa relação ideal e equilibrada, há mais de 60 milhões de anos. Forragens perenes, quando cortadas pelo dente do ruminante, usam a energia estocada no sistema radicular para, com a luz do sol, crescer novamente. Foi em homenagem a esse antigo sistema natural que Matheus se define produtor de capim. “Tem tudo a ver com o solo, é preciso controlar que nunca fique nu”, diz ele. “Eu preciso verificar que o capim esteja sempre na fase ideal antes que os animais comecem a pastar”. Ao longo dos últimos 150 anos, muitos dos solos agrícolas de grande valor do mundo, perderam de 30% a 75% de seu carbono, liberando bilhões de toneladas de CO2na atmosfera.1  As forragens perenes, como os que encontramos nos pastos, têm um enorme potencial de sequestrar carbono, mantendo-o no solo. Segundo Christine Jones, um cientista de solos australiano, os solos retêm mais carbono que a atmosfera e todas as plantas do mundo juntos. Reconstituir os solos é fundamental para a vida na terra e é exatamente o que Matheus pretende fazer – criar uma relação simbiótica entre animais e capim.

Se quiser ajudar Matheus, saiba mais sobre o projeto e ofereça um apoio. 

 

 

1 Lal, R., Follett, R.F., Stewart, B.A. and Kimble, J.M. (2007). Soil carbon sequestration to mitigate climate change and advance food security. Soil Science, 172 (12), pp. 943-956.

 

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