Terra Madre continua: no mundo inteiro, o Slow Food é Food For Change
26 Set 2018

Cultivando soluções para a mudança climática
Meu nome é Tumal Orto Galdibe. Sou um pastor indígena do Deserto do Chalbi, norte do Quênia. O maior desafio da minha vida é encontrar água para meus animais. Caminhamos longas distâncias, até 100 quilômetros, para encontrar poços rasos para as cabras. E se a viagem for muito dura, os animais mais fracos e os filhotes, às vezes acabam ficando para trás. Ao longo dos últimos 17 anos, as chuvas escassas devastaram os pastos. Novas doenças desconhecidas contaminam os animais, e as pragas ficam cada vez mais resistentes. Todo ano, a perda das colheitas dificulta cada vez mais a alimentação dos animais, resultando em menos leite e menos carne para vender. O rendimento das famílias de pastores vai se reduzindo. Não há dúvida: a mudança climática é real, e está nos afetando, agora. Não podemos esperar que a situação melhore. Vai piorar. Para enfrentar essas condições difíceis, temos que levar nossos animais ainda mais longe para que possam pastar.
Tumal Orto Galdibe, Criador do Quênia
A maioria dos cozinheiros não pensa ou nem sabe que o aquecimento global está ligado à alimentação. Pensa-se imediatamente aos setores de energia e transportes, às casas muito aquecidas, mas nunca se pensa na alimentação. No entanto, sabemos que o sistema alimentar tem a maior responsabilidade. É por isso que nós, cozinheiros, desempenhamos um papel fundamental para combater esse fenômeno: podemos imaginar a nossa cozinha com menos carne, menos peixe, mais cereais, mais leguminosas, mas devemos fazer o possível para reconquistar a liberdade das sementes, para multiplicar os modelos agroecológicos e as criações que respeitam o bem-estar animal e o meio ambiente. Nós, cozinheiros, temos a responsabilidade de alimentar a humanidade, juntos podemos desafiar a indústria.
Olivier Roellinger, chef da Relais et Chateaux
Olivier Roellinger é um dos primeiros apoiadores da campanha do Food For Change, a campanha global do Slow Food, que visa conscientizar sobre a relação entre alimento e mudança climática. Lançamos um chamado para toda a nossa rede global, convidando todos a refletirem e modificarem, ainda que pouco, os hábitos que, em conjunto, têm um forte impacto negativo no planeta.
Uma conscientização, ao nosso ver, necessária e urgente, pois a mudança climática é uma realidade com a qual já estamos nos deparando, e que poucos reconhecem como urgente. Ainda assim, cientistas e climatologistas já não têm mais dúvidas: se não forem adotadas medidas para reduzir as emissões globais e C02, em 2100, a temperatura terrestre poderia aumentar em aproximadamente 4°C. Os efeitos seriam como os de um livro de ficção científica: raras precipitações intensas e perigosas, furacões, tornados e eventos climáticos extremos, calor seco e desertificação. Alguns estudos afirmam que um bilhão de pessoas poderia ficar sem água, dois bilhões sofreriam a fome. A produção de milho, arroz e trigo cairia em 2% a cada 10 anos. 187 milhões de pessoas poderiam ser obrigadas a abandonar suas casas, fugindo de territórios inundados.
Os estudiosos estão de acordo: acham que todos devem trabalhar para manter o aumento das temperaturas abaixo de 2°C, o limite para condições de vida aceitáveis[1].
Não é uma missão impossível, e todos nós podemos contribuir. Nós, ocidentais, deveríamos fazer o esforço maior, pois é justamente o nosso sistema alimentar industrial entre as maiores causas das emissões que mudam o clima. Em nível global, a produção de alimentos é responsável por um quinto das emissões de gases do efeito estufa (21%): um número que depende em grande medida de métodos produtivos que perderam qualquer contato com a natureza e que não respeitam o meio ambiente. É por isso que as ajudas deveriam ser destinadas a modelos agrícolas mais naturais. Hoje, ao contrário, dos 62,5 bilhões de euros de verbas europeias e italianas destinadas à agricultura, apenas 1,8 bilhões, isto é menos de 3% dos recursos totais, são destinados à agricultura orgânica. A restante parte acaba financiando modelos agrícolas baseados no uso de fertilizantes e pesticidas[2]. As emissões geradas pela aplicação de fertilizantes representam, contudo, 13% das emissões do sistema agrícola. Trata-se da fonte de emissões no setor primário de mais rápido crescimento: a partir de 2001, aumentou em aproximadamente 45%[3]. É um absurdo que nossos impostos continuem financiando um sistema que nos envenena e que polui o planeta.
Há outras coisas que podemos fazer, beneficiando o meio ambiente e a saúde humana, por exemplo: reduzir o consumo de carne. A criação intensiva é responsável por 14,5% das emissões globais de gases do efeito estufa. Mais uma vez, a responsabilidade é dos países ocidentais, onde, nos últimos 50 anos, o consumo de carne quadruplicou: em média, um cidadão da União Europeia consome 80,6 kg por ano. Segundo dados da OMS, 25 kg já seriam suficientes, mas reduzir pela metade essa quantidade já representaria uma vitória. Na África, o consumo de carne corresponde a menos de um quarto do consumo nas Américas, Europa e Oceania, correspondendo a apenas 17% do consumo de proteínas recomendado.[4]
Mas são sempre as populações mais frágeis, e com menor responsabilidade, as maiores vítimas dos efeitos da mudança climática, que obriga inteiras comunidades a se deslocarem: segundo a Organização Internacional para as Migrações, de 25 milhões a um bilhão de pessoas poderiam ser obrigadas a migrar nos próximos 40 anos. A elevação do nível dos oceanos obrigará 187 milhões de pessoas a fugirem dos territórios submersos (avalia-se que o gasto necessário para enfrentar o problema da subida do nível dos oceanos corresponderá a 9% do PIB global). Se a tudo isso acrescentarmos o desperdício, que gera 3,3[5] bilhões de toneladas de gases do efeito estufa por ano, é evidente a urgência de mudar de paradigma. A partir do alimento, que é causa, vítima e, acima de tudo, possível solução para mitigar o aquecimento global.
Foi por isso que nasceu o Food For Change: uma campanha online e offline, que parte de experiências e exemplos positivos, chegando a soluções adotadas por nossas comunidades no mundo inteiro. Mas o Food For Change é também uma call to action, convidando para o primeiro desafio que, de 16 a 22 de outubro, vai envolver todos os slow foodies do mundo inteiro: durante uma semana podemos escolher uma cozinha à base de ingredientes locais, uma cozinha sem carne, ou com desperdício zero, ou as três coisas juntas. O Slow Food EUA oferece três prêmios: três viagens extraordinárias com três destinos diferentes: para o Slow Food Nation (Estados Unidos, julho de 2019), para o Cheese (em Bra, Itália, setembro de 2019) ou ainda para Bruxelas, com direito a encontrar um cozinheiro da nossa Aliança. Conforme o número de participantes dos desafios, graças à parceria com a Indaco2 (INDicatori Ambientali e CO2, uma spin-off da Universidade de Siena) poderemos calcular o nível de CO2 equivalente economizado graças ao empenho coletivo.
Em nosso website (www.slowfood.it/food-for-change) você já pode encontrar, além de mais informações sobre a relação entre alimento e clima, os resultados da pesquisa Dieta amiga do clima. O estudo, realizado pela Indaco2, com a consultoria do Dr. Andrea Pezzana, médico nutricionista (SC Nutrição Clínica – do Centro de Saúde Pública de Turim), calcula a redução das emissões de gases do efeito estufa com um regime mais saudável. Os estudiosos calcularam que, escolhendo mais verduras e leguminosas, menos carne, e abrindo mão dos alimentos processados, obtém-se uma redução de emissões de CO2. Enfim: escolhendo sustentabilidade e saúde, economizamos, semanalmente, 23 kg de CO2 eq. O que significa isso na prática? Significa evitar uma quantidade de gases do efeito estufa equivalentes às emissões de um carro que percorre 3.300 km. Se considerarmos que todo cidadão europeu percorre, em média, 12.000 km, consumir regularmente alimentos saudáveis, equivale a deixar o carro na garagem durante mais de 3 meses!
Terra Madre Salone del Gusto 2018 Press Office
Slow Food, +39 329 83 212 85 [email protected] – Twitter: @SlowFoodPress
Região Piemonte, +39 011 432 2549 – [email protected]
Município de Turim, +39 011 011 21976 – +39 342 1100131 – [email protected]
Terra Madre Salone del Gusto é um evento organizado pela Cidade de Turim, Slow Food e Região Piemonte, em colaboração com o MIPAAF (Ministério de Políticas Agrícolas, Alimentares, Florestais e Turismo da Itália). A realização do evento é possível graças a seus inúmeros patrocinadores, incluindo os Parceiros Oficiais, GLEvents-Lingotto Fiere, IREN, Lavazza, Lurisia, Parmigiano Reggiano, Pastificio Di Martino e Quality Beer Academy; com o apoio da Compagnia di San Paolo, Fondazione CRT-Cassa di Risparmio di Torino, Associazione delle Fondazioni di Origine Bancaria del Piemonte e Coldiretti; e com a contribuição do FIDA, União Europeia, TCF Foundation e CIA (Confederazione Italiana Agricoltori).
O Slow Food é uma organização global de base que luta por um mundo no qual todos possam ter acesso e desfrutar alimentos bons para quem consome, bons para quem produz e bons para o planeta. O Slow Food envolve mais de um milhão de ativistas, chefs, especialistas, jovens, produtores rurais, pescadores e acadêmicos em mais de 160 países.
[1] Dados IPCC, Intergovernmental Panel on Climate Change. O Grupo intergovernamental sobre Mudança Climática é o foro científico formado em 1988 pela Organização Meteorológica Mundial (WMO) e o Programa das Nações Unidas pelo Meio Ambiente (PNUA) para estudar o aquecimento global. Atualmente, é a instituição científica e referência nos estudos de setor.
[2] Cambia la Terra. Così l’agricoltura convenzionale inquina l’economia (oltre che il Pianeta), relatório 2018 promovido por Federbio, com o apoio de Isde, Legambiente, Lipu e Wwf.
[3] Fao 2012
[4] World Livestock 2011: Livestock in food security, Fao, 2011)
[5] Fao 2015
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