Terra Madre 2024: Moldando o Futuro dos Sistemas Alimentares Sustentáveis

Contudo, não podemos ignorar o momento complicado que estamos vivendo. Em todo o mundo, em muitas partes do planeta, estão ocorrendo conflitos terríveis. Os fluxos migratórios estão se tornando mais intensos, e os sinais da mudança climática são cada vez mais tangíveis e evidentes. Não podemos ignorar a urgência dessas crises e como elas são interconectadas.

O Slow Food defende fortemente o fim de toda forma de violência nos conflitos, da Faixa de Gaza ao Sudão, do Líbano à República Democrática do Congo, da Ucrânia ao Iêmen, e é contra o uso de alimentos como arma de guerra. Por isso pede explicitamente negociações imediatas para chegar a uma solução justa que garanta dignidade para todas as pessoas, promovendo um futuro de paz para todos.

Diariamente sofremos os efeitos da crise climática: derretimento das geleiras, secagem dos rios, calor extremo, enchentes, furacões e tornados cada vez mais violentos. O aumento do nível do mar ameaça a sobrevivência das comunidades de pescadores, a acidificação dos oceanos cria um ambiente desfavorável para a vida e todos os dias assistimos a uma perda cada vez maior de biodiversidade e a uma desertificação imparável.

Dentro desse cenário, está surgindo com clareza o papel do alimento como responsável principal pela crise ambiental.

Essa situação nos obriga a refletir sobre a transformação necessária, se queremos obter um sistema alimentar que seja capaz de alimentar bem todas as pessoas, regenerar e preservar o meio ambiente, permitindo que as culturas locais sobrevivam e prosperem. A mudança deve começar agora.

Vinte anos se passaram desde a primeira edição do Terra Madre. Essas duas décadas testemunharam o crescimento calmo e constante de uma revolução global. Essa revolução foi se espalhando pelo mundo inteiro, inspirando debates importantíssimos sobre biodiversidade, educação, advocacia e muitos outros temas em torno dos quais pequenos produtores e consumidores responsáveis se uniram em busca de um planeta melhor, mais limpo e mais justo graças aos alimentos.

No Terra Madre 2024, os delegados se reúnem para refletir sobre os últimos 20 anos, traçando o caminho para o futuro. Nos mesmos dias, os ministros da agricultura dos sete países mais importantes do planeta (o G7) se reúnem em Siracusa, na Sicília. Aproveitamos desta oportunidade para pedir aos governos que coloquem o alimento no centro da agenda política, pois representa a base dos direitos fundamentais e um elemento fundamental para alcançar a sustentabilidade e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas. O Slow Food identificou algumas áreas-chave onde é preciso tomar uma ação imediata, todas unidas pelo que acreditamos ser o único caminho a seguir para o futuro: rever a nossa relação com a natureza, adotando práticas agroecológicas.

Não há dúvida de que estamos num momento decisivo também para o nosso movimento. A resiliência dos sistemas alimentares locais passa pela agroecologia. Diante das crises atuais, a agroecologia é uma forma de tornar os sistemas alimentares sustentáveis. Objetivo da agroecologia é garantir a soberania alimentar, a segurança alimentar e uma alimentação saudável. Milhões de agricultores, no mundo todo, já praticam a agroecologia com sucesso. O Slow Food realmente acredita no potencial dos agricultores agroecológicos e os considera o futuro dos sistemas alimentares sustentáveis. Por isso apoiamos as fazendas que trabalham segundo o método da agroecologia, construindo e fortalecendo uma rede de Slow Food Farms, capacitando as pessoas envolvidas e colocando essas fazendas no centro dos sistemas alimentares. As Slow Food Farms podem ajudar a reduzir as desigualdades, a injustiça social, a crise ambiental global e a mudar o sistema alimentar. O Terra Madre 2024 será lembrado como a edição em que essa nova revolução começou.

Bem-vindo ao Terra Madre!

Edward Mukiibi, Presidente do Slow Food