Tendências Agroalimentares em Portugal para 2027 Segundo os Princípios Slow Food

25 Set 2018

A atualidade dos sistemas agroalimentares globais, carecem de um profundo pensamento estratégico, compromisso político e envolvimento das diferentes áreas do conhecimento que circundam, o alimento e a alimentação. Esse envolvimento deve ser sério, e acima de tudo, deve assentar na verdade agroalimentar.

A mentira e a desinformação agroalimentares, têm reforçado e contribuído para o elevado grau de iliteracia sobre o alimento, os locais, as gentes, os modos de produção, a preparação, as autenticidades e a mesa, perdendo-se um ADN agroalimentar, cujo património edificado remonta há muitos séculos atrás.

A produção de alimentos, a sua conservação e sua distribuição, criaram um patrimônio imenso de conhecimentos, transmitido, ao longo do tempo e do espaço, e objeto de constante transformação para garantir adaptabilidade e eficiência. Conservar memória e transmitir estes conhecimentos de geração em geração, é um método eficaz para não repetir erros já cometidos, mas também, condição primária para descobrir novas fronteiras e novas oportunidades. Durante séculos, esses conhecimentos foram um dos principais elementos que caracterizaram as comunidades. O Slow Food acredita que é somente com o diálogo, a dialética e a troca entre esses dois reinos do conhecimento – Ciência oficial e Conhecimento Tradicional, que se pode imaginar um futuro sustentável. Mas o diálogo deve acontecer entre todos, em nível de igualdade, evidenciando as competências e especificidades de cada um, “in Congresso Mundial do Slow Food com o tema “A Centralidade do Alimento”, (2012-2016). Dando validade às preocupações centrais desta investigação e suportado em várias pesquisas, a hora de pressionar olhos nos olhos e decididamente o setor agroalimentar e florestal para que produza, transforme e comunique com verdade, chegou a Portugal. Já não é moda, é sim, uma tendência” Dias, (2016).

Objetivos da Investigação e Enquadramento Metodológico

A revisão de literatura sobre o movimento Slow Food, permitiu concluir que haveria espaço para colocar à discussão um novo modelo, centrado nos três fundamentos universais do Slow Food – Fair, Clean and Good. Assim entendeu-se propor um modelo acrescentando uma quarta dimensão apelidada como – Filosofia Agro agroalimentar.

Em oposição a outros movimentos com base no “consumo pelo consumo”, onde a batalha se trava nas prateleiras dos supermercados, o movimento Slow Food, decide encetar o seu conflito, através da mesa de jantar. Ao fazê-lo, construiu deliberadamente a experiência de refeição ideal como sendo: convivial, consciente e ética.

Por outras palavras, sensações prazerosas são reforçadas por considerações éticas numa atmosfera de convívio.

Esta ideia vem reforçar e cimentar que, para Carlo Petrini (2010), assim como para muitos dos seus seguidores e fundadores, o Slow Food não é exclusivamente um movimento relacionado com a gastronomia, mas sim, e também, um movimento que defende e promove uma “filosofia lenta”, da qual, a gastronomia é apenas uma componente (Petrini, comunicação pessoal, 21 de fevereiro de 2010).

A investigação levada a cabo teve como objetivo central apresentar um novo modelo para o Slow Food e simultaneamente, identificar as grandes tendências para o setor agroalimentar e florestal em Portugal, para 2027. A esta proposta de um novo princípio Slow Food, chamou-se-lhe de Filosofia do alimento ou agroalimentar, desdobrada em três fatores: espiritualidade, socialização e conhecimento, tentando atribuir aos termos “convivialidade, ética e consciência”, um princípio próprio.

Prever cenários longínquos para fenómenos de grande complexidade, como é o que se apresenta neste estudo de Investigação, exigiu a utilização de uma metodologia que garantisse a fiabilidade dos resultados. A este propósito, a técnica Delphi foi identificada como sendo aquela que permitiria uma abordagem de pesquisa de acordo com os objetivos traçados.

Modelo Concetual Delphi

O Delphi pode definir-se como “um método de estruturação de um processo eficaz de comunicação em grupo, permitindo que esse grupo de indivíduos, lide como um todo, com um problema complexo”. (Linstone e Turoff, 1975, p.3). No fundo é partir potencialmente da divergência de opiniões, para a convergência, sem que hajam influências ou enviesamentos exteriores. O painel Delphi foi constituído segundo três critérios base, cumulativamente suportados em variáveis pré-definidas acerca do perfil de cada membro selecionado. O painel encontrado foi de 24 experts, conferindo a representatividade do estudo pelas suas “origens profissionais” com base em: setor público 12,5%, setor académico 25% e setor privado 62,5%. (Saiba mais)

A revisão de literatura sobre os princípios do Slow Food e suas variantes, permitiu cimentar o problema inicial de investigação e desenvolver um modelo dinâmico e interdependente entre os três princípios universais – Justo, Limpo e Bom e um quarto, que reforça a proposta de um novo modelo: a Filosofia agroalimentar.

An equation of equilibrium

A realidade dos dias de hoje, no que toca ao setor agroalimentar em geral, vai dando claros sinais de que, as tendências para os próximos anos, emergirão ainda antes do previsto. Será uma realidade cada vez mais evidente ter-se de conviver com a bipolaridade das cadeias de valor agroalimentares. Sobressairá o eixo da naturalidade, com base nos conceitos que determinarão os caminhos futuros ao nível da sociologia do consumo – produtos oriundos da Agricultura Tradicional, Agricultura Biológica, Biodinâmica, Sintrópica à própria Agroecologia. Por outro lado, o eixo da tecnologia agroalimentar, da manipulação genética, da alimentação clonada, no fundo, de uma cadeia de valor laboratorial. Em ambos os caminhos, o agro-food marketing experience será uma garantia de maior confiabilidade agroalimentar. As geografias onde ocorrerão os crescimentos populacionais previstos para as próximas décadas, acabarão por determinar os novos drives da alimentação. Paradoxalmente e após diversos avisos, os “recursos naturais-biodiversidade ou falta dela”, impedirão a manutenção dos atuais padrões de consumo e desperdício agroalimentar e florestal. Para o bem da Humanidade, os consumos per capita agroalimentares, irão reduzir-se. O clima, o alimento e a mesa, formarão uma equação de equilíbrios, que forçará o consumo à adaptação. Simultaneamente, verificar-se-ão novos valores associados ao alimento: a espiritualidade no sentido do bem-estar, será um deles, assim como, a ética, transparência e a verdade na comunicação das empresas agroalimentares, passarão a ser, de facto, reais. O sigilo e a proteção industrial nos processos de fabrico e transformação de alimentos para consumo humano, serão temas a rever, tornando mais transparente e acessível a realidade agroalimentar. A “mesa do alimento” voltará a ser o centro do convívio, da ética, do respeito pelo produtor e território, e tenderá a ser, mais espiritual, propiciando momentos individuais ou coletivos, de prazer de bem-estar e filosóficos.

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by Rui Rosa Dias,

Coordenador Científico Investigador Principal

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