Nebbiolo dos terraços
16 Jun 2015
Há cerca de 150 quilômetros ao norte das famosas regiões produtoras dos vinhos Barolo e Barbaresco, um outro vinho extraordinário é produzido com a uva Nebbiolo, um vinho que nunca alcançou fama nacional ou internacional. Em Carema, um vilarejo no norte do Piemonte, perto da fronteira com o Valle d’Aosta, um vinho de mesmo nome tem sido produzido desde o século XV na extraordinária paisagem dos terraços de vinhedos.
A qualidade do Carema é reconhecida desde o século XV, sendo um dos vinhos preferidos de papas e cardeais das cortes dos Savoia. Por volta do início do século XX, o vinho era um importante recurso para os moradores do vilarejo, representando uma de suas maiores fontes de emprego e riqueza, além de ser símbolo da identidade da comunidade. O vilarejo era conhecido como “paese vigneto,” um vilarejo de vinhedos, que cresciam à volta das casas, em pátios e jardins.
Os característicos vinhedos de Carema são cultivados em terraços de um anfiteatro natural, partindo de 300 metros até 600 metros acima do nível do mar. Os terraços fazem com que as encostas íngremes possam ser cultivadas e previnem a erosão do solo. Os produtores introduziram um método de condução das videiras que se adapta bem às características ambientais: o sistema de pérgolas, com uma rede de varas apoiadas em pilares.
Além de sustentar todo o sistema de pérgolas, os cones de pedra truncados também têm uma outra função importante: as pedras absorvem o calor durante o dia e liberam calor durante a noite, ajudando a manter um microclima mais ameno entre as videiras. No passado, esse sistema de treinamento era projetado não apenas para armazenar calor, mas também para aproveitar o espaço da melhor forma, permitindo o cultivo de verduras debaixo da pérgola. No vilarejo ainda existem algumas pessoas que sabem como manejar esse sistema de cultivo. O manejo dos vinhedos é feito manualmente, com conhecimento adquirido ao longo de séculos.
As características do vinho vêm do terroir, das uvas — um clone específico da variedade Nebbiolo que se adaptou às condições locais — e do trabalho dos viticultores. O aroma do Carema é sutil e fresco, com notas florais e minerais; no palato é elegante, com taninos densos e grande persistência aromática. As uvas amadurecem menos do que no sul no Piemonte, produzindo um vinho menos robusto e mais ácido do que o Barolo ou o Barbaresco.
Apesar de sua excepcional qualidade e passado ilustre, hoje o Carema enfrenta um risco real de extinção. Viticultores lidam com uma série de dificuldades para cultivar essa heroica viticultura de montanha. O manejo desse tipo de terreno requer quatro vezes mais mão de obra do que um vinhedo normal, e o rendimento não é muito alto. O cultivo com mão de obra intensiva combinado com a venda a preços inadequados significa que gerações mais jovens não estão mais interessadas em enfrentar os desafios. De fato, a idade média dos produtores é 60 anos.
In 2014, a Fundação Slow Food para a Biodiversidade criou uma Fortaleza do Carema, um projeto para proteger produtos tradicionais ameaçados, trabalhando diretamente com produtores. O objetivo é promover a viticultura tradicional de Carema, proteger a paisagem rural e preservar a sua biodiversidade. A Fortaleza reúne todos os viticultores que se comprometem a adotar práticas de agricultura sustentáveis: práticas que respeitam o meio ambiente, além da saúde de quem bebe o vinho. A Fortaleza tem o objetivo de facilitar a venda direta para assegurar melhor renda para os produtores e de permitir contato direto com consumidores, resgatando o orgulho dos produtores deste produto extraordinário.
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