#Hunger4Bees, porque o declínio das abelhas também afeta sua alimentação!
21 Mar 2017
A reportagem multimídia de Monica Pelliccia e Adelina Zarlenga, jornalistas, e Daniela Frechero, fotógrafa, explica, através das histórias de 4 protagonistas encontrados na Itália e na Índia, o impacto da diminuição das abelhas sobre a mesa e a saúde.
O alimento foi o ponto de partida, para oferecer uma nova perspectiva sobre o problema mundial do declínio das abelhas, tocando um aspecto caro a todos: a alimentação. O impacto da diminuição dos insetos polinizadores sobre nossas mesas, e as consequências sobre a saúde, o meio ambiente e a biodiversidade, com efeitos tangíveis e diários, foram o motor do projeto jornalístico Hunger For Bees, com o qual ganhamos o Prêmio Internacional de Jornalismo “Innovation in development reporting”, administrado pelo Centro Europeu de Jornalismo, e realizamos uma reportagem multimídia, que foi publicada, em italiano, espanhol e inglês, em diversos jornais e revistas do mundo inteiro. Uma investigação jornalística, que já se tornou uma graphic novel e que, em breve, também será um documentário, que nos levou a viajar entre Itália e Índia, com o objetivo de informar que a diminuição de abelhas tem consequências sobre o sistema alimentar global e sobre a segurança alimentar. Antes de viajar, realizamos um grande trabalho de pesquisa, para dar fundamentos científicos sólidos e fiáveis à nossa investigação.
Segundo dados da FAO, de fato, 75% dos cultivos mundiais depende total ou parcialmente da polinização. E, ao longo dos últimos 50 anos, aumentaram em 300% os cultivos dependentes do trabalho dos preciosos insetos polinizadores. Além disso, pesquisadores da Universidade de Harvard, num estudo publicado na prestigiada revista The Lancet, destacaram que sem as abelhas, os países em vias de desenvolvimento poderiam reduzir a produção de alimentos de um terço, com um forte impacto sobre a saúde das pessoas, com carência de micronutrientes como vitamina A, ferro, ácido fólico. Enfim, sem a atividade indispensável dos polinizadores, cerca de 71 milhões de pessoas, na maioria mulheres e crianças, poderiam ser vítimas de malnutrição devido à falta de vitamina A, com um provável aumento de doenças infecciosas e mortalidade.
Não há uma única causa que provoca a morte das abelhas, as causas variam conforme a região e a época, segundo informou o entomólogo Claudio Porrini da Universidade de Bolonha, na Itália e segundo confirmaram Agnes Rotrait, especialista de entomologia da EFSA. Há, portanto, uma sinergia de causas: mudança climática, monoculturas, práticas inapropriadas de apicultura, doenças e pesticidas. As mesmas que apicultores e apicultoras identificaram de norte a sul da Itália.
“Para conseguir salvar as abelhas e, consequentemente, para salvar-nos, é preciso mudar radicalmente o modelo de agricultura”, explica Serena Milano, responsável pela Fundação Slow Food para a Biodiversidade, que entrevistamos em Bra. “É preciso abandonar as monoculturas, diferenciar, deixar também espaço aos terrenos não cultivados, não utilizar pesticidas e adubos químicos sintéticos. É possível produzir com técnicas agrícolas que preservam a fertilidade do solo. Esse é o caminho, segundo o Slow Food: um caminho difícil, pois significa produzir menos de muitas coisas diferentes, mas ainda assim em quantidade suficiente para saciar a humanidade, sem prejudicar o planeta”.
Malles, o primeiro município do mundo que eliminou os pesticidas graças a um referendum
Já existem comunidades e inteiros países que tomaram caminhos mais sustentáveis. Como Malles, na região da Alta Val Venosta, no norte da Itália, o primeiro município que, através de um referendum, conseguiu proibir o uso de pesticidas em agricultura. Em Malles, encontramos um de nossos protagonistas: Johannes Fragner, o farmacêutico do vilarejo, partidário do referendum e promotor de uma agricultura mais amiga da segurança alimentar. A poucos quilômetros de Malles, na Suíça, em 2018, haverá um referendum para proibir os pesticidas sintéticos. A França aprovou uma emenda, ligada a uma lei sobre biodiversidade, que passará a vigorar no ano que vem, para proibir os neonicotinóides.
As abelhas que na Índia melhoram a saúde das pessoas
A viagem do Hunger For Bees passou também pela Índia, um país que, sem polinizadores, perderia um terço de sua produção de frutas e hortaliças. Haveria também graves consequências na cesta alimentar das pessoas, uma perda anual calculada em 726 bilhões de dólares. “Não apenas se perderia dinheiro, mas estamos falando também da perda de alimentos, ou seja, basicamente, de fome”, explica Parthib Basu, diretor do Centro de polinizadores da Universidade de Calcutá, que levou adiante o estudo. As histórias de agricultores e agricultoras que encontramos nesse país, provam a forte dependência entre apicultura e agricultura. Como a história de Neema Ramesh Bilkule, agricultora de um remoto vilarejo no coração da Índia, localizado a seis horas de Mumbai. Graças às abelhas, conseguiu melhorar as condições de vida e o bem-estar de sua família: a produção de berinjela, manga, pimenta malagueta, aumentou entre 30 e 60%, reduzindo a ocorrência de febres e doenças durante a estação dos monções, e garantindo uma safra suficiente para vender uma parte da produção nos mercados locais. As abelhas, portanto, oferecem uma ajuda concreta às famílias indianas que vivem em regiões como essa, fortemente afetadas pela mudança climática e pelas secas.
Também na região de Tamil Nadu, no extremo sul da Índia, as abelhas são aliadas da agricultura. Uma ligação que norteou as pesquisas de Ammasan Parthiban, motorista de ônibus e apaixonado apicultor que, depois de ter verificado que, graças às colmeias, sua produção de tamarindo aumentou em aproximadamente 400% em apenas um ano, decidiu compartilhar seus resultados com as pessoas de seu vilarejo, para aumentar a produtividade das safras e o bem-estar do ecossistema.
A atenção e a defesa da biodiversidade foi o fio condutor de toda nossa reportagem, até a última etapa da viagem, em Sikkim, primeiro estado indiano que se declarou orgânico. Uma utopia verde entre Tibete, Nepal e Butão, que, em 7.000 km2 reúne pouco mais de meio milhão de habitantes, que vivem respeitando o meio ambiente, e onde ergue-se o Kanchenjunga, a terceira cimeira mais alta do mundo. Há mais de dez anos, foi proibido o uso de pesticidas, registrando um aumento da produtividade dos cultivos e a volta das abelhas silvestres, um índice importante de bem-estar da biodiversidade.
Monica Pelliccia TW @monicapelliccia
Adelina Zarlenga TW @adelinaZarlenga
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