O escândalo deflagrado no Brasil revela mais um problema com a produção industrial de carnes

07 Abr 2017

Datas de validade alteradas, uso de produtos químicos para modificar aparência e cheiro de carnes estragadas, corrupção de fiscais e de políticos são apenas algumas das táticas praticadas por produtores e fornecedores da indústria de carnes que vieram à tona com o escândalo deflagrado no Brasil.

Um dos maiores exportadores de carne bovina e de aves assiste a uma operação investigativa sem precedentes que mobilizou mais de 1000 oficiais em todo o país. Até o momento, a investigação revelou a existência de uma extensa rede de propinas e de corrupção envolvendo fiscais do governo que se supunha deveriam zelar pelo padrão de segurança dos produtos. O governo brasileiro decretou o fechamento de três estabelecimentos de produção e suspendeu as licenças de exportação de 21 empresas.

Os grandes produtores da indústria de carnes podem expor o mundo inteiro a riscos. O Brasil alcançou em 2016 a cifra de $12.6 bilhões em exportações e a maior parte dessas exportações destinou-se à China, ao Oriente Médio e à União Europeia. A carne exportada pelo Brasil também destina-se a países da América Central e do Sul, África, Ásia e Rússia. Segundo o AgraFacts, a União Europeia, que importa do Brasil mais de 400.000 toneladas métricas de carne, informou ter alcançado um consenso entre os países-membros sobre como reforçar os controles incrementando a fiscalização sobre a carne brasileira que chega à Europa com o monitoramento físico de 100% dos carregamentos e 20% no caso de controle microbiológico. Resta decidir por quanto tempo essa fiscalização será aplicada. As restrições às importações de produtos procedentes do Brasil foram aplicadas por um total de 45 países desde que o escândalo foi revelado.

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Estima-se que quando a poeira tiver baixado, o fluxo de produtos carnes para esses países será retomado (isto enquanto não surgir outra bactéria ou outro escândalo). Chegou a hora que todos nos perguntemos se este é o tipo de sistema do qual queremos ser parte. A produção industrial de carnes em larga escala è insustentável tanto para nossa saúde como para o planeta ou para as condições de vida dos agricultores e de bilhões de animais que cada ano são criados e abatidos para atender às demandas crescentes do mercado. Essas empresas exploram os próprios trabalhadores, os rebanhos, os usuários e, neste caso, os governos nacionais para satisfazer um mercado que requer produtos mais baratos.

Segundo a Associação Slow Food Brasil, “Este escândalo demonstra-nos a fragilidade de um sistema que depende de um oligopólio de produção e processamento de carnes que detem um grande poder político e econômico. Essa indústria considera a carne meramente como mercadoria e visa um crescimento econômico indefinido que ultrapassa todos os limites aceitáveis”.

Se nós, os consumidores, decidíssemos reduzir o consumo de carne preferindo aquelas de melhor qualidade, poderíamos alavancar a redução do poder que essas corporações detêm transferindo-o àqueles produtores de pequena escala que criam os próprios rebanhos e processam seus produtos cumprindo os padrões mais altos de qualidade. Ao escolher alimentos locais com critérios conscientes, os consumidores decidem apoiar práticas eticamente íntegras e sustentáveis além de reduzir o impacto ambiental e manter sob controle a própria segurança.

“Repudiamos esse jogo de poderes no qual os grandes capitais ditam as políticas em benefício próprio, marginalizam não só os pequenos criadores mas também as cadeias alternativas de produção impedindo-lhes ser competitivos, degradam o meio ambiente, agravam conflitos fundiários, ignoram o bem-estar dos animais e as condições dignas de trabalho. Outras lógicas existem e hoje são mais necessárias que nunca.” – Associação Slow Food Brasil

 

Fontes: AgraFacts, Bloomberg- Why Brazil’s Tainted-Meat Probe Worries the World (Porque o mundo está preocupado com a investigação sobre carnes contaminadas no Brasil), BBC- Carne vencida e mascarada com ‘produtos cancerígenos’: o escândalo que atinge as maiores empresas do Brasil

 

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