O Alimento e a Política
24 Out 2018
Qual é a relação entre o alimento e a política?
Enquanto ativistas por uma agricultura de bases agroecológicas e pelo reconhecimento e valorização da cultura alimentar dos povos e seus territórios, entendemos o ato de comer como um ato político. A busca coletiva pelo alimento bom, limpo e justo para todos só é possível de se realizar num Estado Democrático de Direito, por meio do diálogo com os mais diversos setores da sociedade e pela construção de políticas públicas que reconheça e valorize as nossas sociobiodiversidades.
Qual é a situação hoje em relação às políticas para a agricultura familiar? E quais são as maiores preocupações em relação à segurança alimentar e acesso ao alimento?
Nos dois últimos anos foram notáveis os numerosos retrocessos nas políticas públicas para a agricultura familiar em nosso país, como o corte brutal no orçamento do PAA (Programa de Aquisição de Alimentos), e o avanço de projetos de lei que flexibilizam a regulamentação de agrotóxicos.
Em plena Semana Mundial da Alimentação, data estendida do Dia Mundial da Alimentação, celebrado em 16 de outubro pela FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), nos deparamos com um cenário brasileiro preocupante, que vai na contra-mão do desenvolvimento social que o país vinha desfrutando. O programa mais importante de redistribuição de renda – Fome Zero/Bolsa Família – promoveu a inclusão socioeconômica de milhões de brasileiros, e serviu de inspiração para um dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 da ONU e do tema do Dia Mundial de Alimentação 2018. Dados mais recentes levantados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD/IBGE) indicam o aumento da pobreza e extrema pobreza, respectivamente a índices de 4 e 10 anos atrás, nos fazendo muito provavelmente retornar ao famigerado Mapa da Fome do qual acabamos de sair pela primeira vez em 2014. Tais índices decorrem das políticas de austeridade e perda de direitos ocorrida nos últimos anos.
O que a Associação Slow Food do Brasil pede para o futuro Presidente?
Queremos que a agricultura familiar e a agroecologia tenham novamente um destaque nas políticas de Estado do Governo Federal e garantam a soberania, a segurança alimentar e nutricional, o acesso de produtos da sociobiodiversidade aos mercados, legislações sanitárias que protejam as produções artesanais, e a erradicação da fome até 2030, revertendo o quadro de retrocessos que sofremos desde 2016.
Diante do atual cenário, um olhar atento faz-se necessário. Ao compararmos os planos de governo e analisarmos os discursos dos presidenciáveis e suas equipes, percebemos que apenas um dos candidatos se mostra aberto ao diálogo e à construção democrática e participativa das políticas públicas, necessárias para superarmos os desafios da agricultura e alimentação.
Quais são as potencialidades do Brasil e qual é o papel do movimento Slow Food?
Com a sociobiodiversidade deste país, temos o potencial de produzir mais alimentos e de melhor qualidade, cuidando da natureza e das pessoas. Não podemos ficar alheios aos retrocessos que estão afundando nosso país novamente nesse manto da fome. Precisamos resistir, fortalecer e seguir com os avanços.
Desse modo, o Slow Food é um movimento internacional que reconhece as conexões do que comemos com o planeta e as pessoas e para tal atua em prol do alimento bom, limpo e justo para todos. Nosso movimento está fincado nos territórios junto aos agricultores familiares, extrativistas, pescadores, povos indígenas e comunidades tradicionais, trabalhadores do campo e produtores artesanais. Sob nenhuma circunstância podemos deixar de apoiá-los e lutar com eles. Nossa base é formada por ativistas que defendem essas premissas e valorizam a sociobiodiversidade e a cultura alimentar, a educação alimentar e do gosto e o encurtamento de cadeias de comercialização, aproximando as comunidades produtoras e consumidoras.
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