A GEOGRAFIA SEGUNDO TERRA MADRE
23 Out 2020

APELOS DE FRANCO FARINELLI, VIRGINIE RAISSON E PAUL COLLIER, FEITOS DURANTE A PRIMEIRA CONFERÊNCIA DO TERRA MADRE.
O Terra Madre Salone del Gusto 2020 foi oficialmente inaugurado! A 13ª edição do evento mais importante dedicado à alimentação boa, limpa e justa começa hoje e continua por seis meses, com um formato inovador que combina eventos digitais e eventos presenciais, sempre que possível, em todo o mundo.
É uma edição diferente de qualquer evento anterior de Slow Food, única por seus objetivos ambiciosos: fornecer ferramentas para analisar o que está acontecendo no mundo, a fim de propor soluções concretas que possam ajudar a resolver os problemas comuns a todos nós.
A GEOGRAFIA COMO CHAVE PARA ENTENDER O MUNDO
New Geographies and Possible Futures: mas por quê um evento que, normalmente, está voltado para a agricultura, a agropecuária sustentável e visões mais justas do desenvolvimento e da cultura alimentar, deve, agora, ter a geografia como ponto de partida?
Porque, como diz o Professor de Geografia da Universidade de Parma, Davide Papotti, “mudar nossa perspectiva e a forma de olharmos para o nosso planeta, é fundamental para mudar nossos comportamentos e modelos de desenvolvimento aplicados até hoje”. Em outras palavras: a mudança pela qual Slow Food tem lutado há mais de 30 anos, só pode ser alcançada se mudarmos radicalmente nossa maneira de considerar os problemas que afligem a nós e ao nosso planeta.
“Devemos desenhar uma nova geografia”, explica Papotti. O Terra Madre tenta fazer isso colocando de lado a normal interpretação geopolítica d e um mundo concebido como feito de fronteiras e instituições estatais, oposta à nova interpretação que vê a Terra como uma variedade de ecossistemas interligados: áreas montanhosas, comunidades costeiras, grandes planícies e cidades. Ambientes que têm especificidades similares e que muitas vezes sofrem com os mesmos problemas, independentemente do continente ou nação onde se encontrem, para os quais, portanto, é possível trabalhar no desenvolvimento de soluções comuns.
É imprescindível que superemos a nossa tendência em considerar apenas a nossa situação local. Enfrentamos, diariamente, fenômenos que podem parecer não estar relacionados, mas que possuem as mesmas raízes. A aceleração da perda da biodiversidade, o aumento da desigualdade social no mundo, a violação dos direitos humanos, o problema constante da fome e a crise ambiental amplificam outras crises relacionadas como a saúde, migração e economia.
UM SENTIMENTO DE COMUNIDADE
Há outro aspecto a considerar, como ilustrado por Virginie Raisson, analista de relações internacionais, especializada em geopolítica e diretora do centro de pesquisa francês Lépac além de autora do livro Atlas of the World’s Futures: “As grandes ameaças como o aquecimento global, a crise energética, a pandemia, a perda de biodiversidade, a crise financeira e econômica, a criminalidade de colarinho branco: não respeitam as fronteiras nacionais e, portanto, é importante encontrar formas de pensar o mundo e mostrar as relações entre estes fenômenos.”
Franco Farinelli, Professor de Geografia em Ginevra e Los Angeles, em Berkeley e na Sorbonne de Paris nos fala da tentação de repartir o mundo em seções estáticas, “de fatiar o globo, de pensar no mundo como sendo uma série de mapas”; essa tentação voltada à progressiva desmaterialização do mundo, não deve prevalecer, apesar da era cada vez mais digitalizada e que vivemos: “O nosso planeta é uma esfera, portanto devemos pensar nele como tal, como uma única esfera.”
É um desafio diferente de qualquer outro que já tenhamos enfrentado, e não há tempo para procrastinar. Enquanto para Farinelli precisamos de um “novo humanismo”, para Paul Collier, Diretor do Centro Internacional de Crescimento, o que precisamos é “recuperar aquela ideia de cooperação, de “inteligência coletiva”, que se perdeu nos últimos 40 anos de capitalismo frenético que tem dificultado o progresso.”
Cover image: Photo: Elena Mozhvilo / Unsplash
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