Restabelecer o equilíbrio entre o Homem, os Animais e o Planeta Slow Food emite novo documento de posicionamento sobre o bem-estar dos animais
24 Sep 2022 | Portuguese
A 23 de Setembro, o Slow Food apresentou o seu documento de posicionamento oficial sobre o bem-estar animal, “Beyond Welfare: We Owe Animals Respect” (Além do bem-estar: devemos respeito aos animais) durante o Terra Madre – Salone Del Gusto, em ocasião da conferência “All we need is Slow Farming” (“Precisamos de uma agricultura lenta”) que contou com a presença de Andrea Gavinelli, chefe da Unidade de Bem-Estar Animal da Direção Geral de Saúde e Segurança Alimentar da Comissão Europeia.
Raffaella Ponzio, principal responsável da Slow Food pelo bem-estar animal declarou: “Precisamos de uma mudança de paradigma na relação entre os seres humanos e os animais de criação. Os animais não são meios de produção. Os animais devem poder viver neste planeta sem serem obrigados a viver em condições não naturais de constrangimento e, como ocorre muitas vezes, de sofrimento. Não podemos continuar a alimentá-los com alimentos cultivados do outro lado do mundo, oriundos de monoculturas que destroem ecossistemas. A carne e os próprios animais não devem percorrer milhares de quilômetros para chegar às nossas mesas. Precisamos ligar novamente a criação dos animais à terra. Isto implica mudar e, é óbvio, significa que devemos reduzir o número de animais de criação e transformar a nossa alimentação. Consumir grandes quantidades de carne não é saudável, seria melhor comermos menos carne pagando o preço justo por ela”.
Nestes últimos setenta anos, a produção agropecuária industrializada, impulsionada pela procura cada vez maior de carne e produtos lácteos, levou à proliferação de grandes e poluidoras explorações zootécnicas. Entre os anos 2000 e 2013, a produção global de carne e leite de bovinos, búfalos, caprinos e ovinos aumentou respectivamente de 13% e 32%. Se não houver mudanças, é bem provável que essa tendência siga aumentando.
Durante a conferência, foram abordados vários aspectos da exploração do gado. Larissa Mies Bombardi – professora brasileira exilada na Bélgica devido a ameaças recebidas após a publicação do seu livro de 2017, Atlas Geografía del uso de plaguicidas en Brasil y conexiones con la Unión Europea (Atlas Geográfico do Uso de Agrotóxicos no Brasil e Conexões com a União Europeia) – descreveu os impactos negativos da produção intensiva de soja na América Latina, cujo cultivo requer grandes quantidades de agrotóxicos, para alimentar aves, suínos e gado (inclusive para os mercados ocidentais). Sergio Capaldo, presidente do Ecosi Consortium Society, ilustrou as boas práticas implementadas no cuidado dos solos perante a crise climática; enquanto Jacopo Goracci, criador de gado para a Fortaleza Raça Maremma do Slow Food, destacou o papel fundamental da pecuária extensiva, principalmente para as regiões marginais. Após estas palestras houve a apresentação de Paolo Carnemolla, secretário-geral da Federbio, que falou de um dos seus importantes projetos sobre declaração de bem-estar animal nos rótulos.
Andrea Gavinelli, da Comissão Europeia (DG SAÚDE) encerrou a conferência frisando quão importante seja que a criação animal seja abordada como um sistema: “Esta é a melhor maneira de desenvolver um sistema que seja realmente sustentável. Tal como assinalado por Slow Food em seu novo documento de posição oficial, não basta com simplesmente abordar a questão da criação de animais, devemos olhar também para a segurança alimentar, a biodiversidade a paisagem, etc.”. Anunciou também que a Comissão Europeia deve integrar todos esses elementos na proposta para novo regulamento da UE em matéria de bem-estar animal esperado para 2023, que deve ser aprovado com a colaboração do Parlamento Europeu.
O bem-estar dos aninais está intrinsecamente ligado àquele humano e ambiental: estas três facetas não podem ser abordadas separadamente. Slow Food defende a bordagem “One Welfare” (“Um só bem-estar”), que reconhece a complexa interligação entre a saúde de pessoas, plantas, animais e o planeta. Não é possível garantir a saúde da população sem que a saúde de plantas, animais e planeta seja considerada. Eis porque a campanha do Slow Farming defende aqueles que criadores que respeitam os animais, que cuidam dos solos, que asseguram a biodiversidade animal e paisagística. O respeito é a palavra chave na visão Slow Food sobre pecuária: devemos devolver à pecuária o valor justo que tem, pagar o preço justo pelos produtos de origem animal, reduzir nosso consumo e evitar desperdícios.
Leia o nosso documento de posicionamento:
EN: “Beyond Welfare: We Owe Animals Respect”
IT: “Oltre il benessere: gli animali d’allevamento meritano rispetto”
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