A cerimônia de abertura do Terra Madre marca o início do evento, com a presença de 3.000 delegados e as palavras de Michelle Obama e do Papa Francisco

O Salone del Gusto e Terra Madre 2014 foi aberto em Turim, Itália, com discursos sobre os avanços e os desafios para o futuro da rede do Terra Madre

A Cerimônia de Abertura do Terra Madre inaugurou oficialmente a edição do Salone del Gusto e Terra Madre 2014, com a presença de representantes do Slow Food, 3.000 delegados, imprensa e público. A cerimônia deste ano viu, mais uma vez, um desfile de bandeiras, música e discursos sobre os as histórias de sucesso e os desafios futuros da rede do Terra Madre nas diversas regiões do mundo. O Slow Food ficou especialmente honrado com as mensagens enviadas pelo Diretor-Geral da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, José Graziano da Silva; Michelle Obama e pelo Papa Francisco.

O Papa Francisco enviou uma mensagem de boas-vindas a todos os participantes, dizendo que ninguém deveria ficar sem comida suficiente e saudável. Michelle Obama, a primeira-dama dos Estados Unidos, enviou uma mensagem de vídeo da Casa Branca aos participantes da cerimônia de abertura, dizendo: “Quero apenas agradecer por tudo aquilo que vocês estão fazendo para promover uma alimentação saudável e boa nutrição nas nossas famílias e comunidades, e pelo trabalho de conscientização sobre estas questões no mundo inteiro, pois como todos vocês sabem muito bem, o alimento não é apenas o combustível para o nosso corpo, é como expressamos quem somos como pessoas. É como demonstramos nosso amor pelos amigos, pela família e vizinhos; e, portanto, o esforço de todos vocês para preservar as tradições regionais e os sabores locais faz a diferença para as pessoas do mundo inteiro. O projeto das 10.000 hortas na África me deixa especialmente animada. Eu sei como é importante produzir alimentos saudáveis nas próprias comunidades […] Quero agradecer mais uma vez por tudo aquilo que vocês estão fazendo para ajudar crianças e famílias em todo o mundo.”

Histórias de Sucesso da Rede do Terra Madre

Naseegh Jaffer (África do Sul), secretário-geral do World Forum of Fisherman, fez um discurso emocionante sobre o sucesso alcançado com uma campanha legal para defender os direitos dos pescadores em sua terra natal, a África do Sul. Ele contou ao público como pequenos produtores, pescadores, mudaram uma lei que negava aos pescadores de pequena escala o seu “direito de acesso ao mar” e a “capacidade de se alimentar.” Descreveu como uma vitória no tribunal exigiu que o governo criasse um “novo quadro político que nos incluísse”.

Joei Asari (Japão), produtor artesanal de Koji, descreveu a rica história dos produtos tradicionais do Japão, explicando, com muito orgulho, como a sua família conseguiu preservar um produto tradicional: “Há 320 anos, a minha família produz um produto muito importante chamado koji [e] a sabedoria japonesa e sua enorme variedade em todo o Japão reflete a cultura e o clima de cada lugar.”

Alice Waters (EUA), vice-presidente do Slow Food Internacional, falou de sua campanha por uma “Educação Comestível” no sistema escolar americano e dirigiu-se ao público dizendo que todos precisamos voltar para a escola e trabalhar para construir um movimento internacional por uma educação comestível nas escolas.”

Roba Bulga (Etiópia), coordenador da rede do Slow Food e Terra Madre na Etiópia, além de ser pastor nômade da Tribo Karrayu, descreveu como o seu povo de pastores de camelos nômades criou uma Fortaleza do leite de camela e criou 60 hortas, embora tenha perdido parte das suas terras ancestrais devido à produção industrial de cana-de-açúcar.

Edward Mukiibi (Uganda), vice-presidente do Slow Food Internacional, falou dos muitos sucessos do Slow Food na África, incluindo a criação das hortas escolares e comunitárias em 30 países africanos através da campanha das Mil Hortas na África, a criação das Fortalezas e a catalogação das “inúmeras variedades de banana, café, painço e inhame […]”.

Adelita San Vicente Tello (México), diretora da associação Semillas de Vida, falou sobre a vitória legal com a qual ficou proibido o milho transgênico no México. Exclamou para o público que “eu e milhares de mexicanos conseguimos tornar [um sonho] realidade: deter a Monsanto na terra do milho.”

Desafios para o Futuro

Além de histórias de sucesso, os discursos da cerimônia de abertura do Salone del Gusto e Terra Madre também falaram do futuro, destacando os desafios que a rede do Madre Terra quer enfrentar no futuro.

Selvi Nanji (Índia), representante da rede Indigenous Terra Madre e membro da tribo Alu Kurumba descreveu os desafios que enfrentou na Índia, onde fez um recenseamento de seu povo e percebeu que “não havia idosos suficientes para orientar os jovens em questões de identidade cultural, sistemas de aldeias, medicina tradicional e transmitir antigos conhecimentos.” Ela disse que “temos muitas convicções que nos impedem de interagir com outras pessoas e de participar de encontros públicos… eu quero mudar isso.”

Anna Grosmanova (República Tcheca), líder da Slow Food Youth Network na República Tcheca, falou dos desafios enfrentados pelos jovens criados num ambiente urbano, dizendo que “Achamos que os jovens nas grandes cidades, como Praga, no meu caso, estão desconectados das estações e da terra de onde vêm os seus alimentos.”

Ivo Kara Pesic (Croácia), líder do convivium Slow Food Dubrovnik e organizador da última edição do Terra Madre Bálcãs, deu detalhes dos desafios enfrentados recentemente, durante a organização do evento Terra Madre Bálcãs, em Dubrovnik, assim como para a identificação de 200 produtos alimentares para a Arca do Gosto, num prazo de tempo muito curto. Ele enfatizou que “organizar o Terra Madre Bálcãs na Croácia, menos de um ano depois do nosso país ter entrado para a União Europeia, foi tremendamente importante”.

Ibrahim Mansaray, agrônomo da Costa do Marfim, falou em nome de dois representantes de Serra Leoa, que não puderam participar devido à atual surto de Ebola no oeste da África: Patrick Mansaray, coordenador das Hortas Slow Food em Serra Leoa, e o padre Maurizio. A história de Patrick Mansaray conta como as hortas Slow Food gardens são “mais importantes do que nunca” no seu país e que “muitas comunidades estão sobrevivendo agora graças aos alimentos dessas hortas.” A história do padre Maurizio conta que “o contágio está se espalhando rápido, e a resposta não é rápida o suficiente. O serviço de saúde está a ponto de colapso, os centros que recebem as vítimas do Ebola estão lotados e não aceitam mais ninguém.”

Jerônimo Villas-Bôas (Brasil), ecologista e coordenador da rede Slow Food das abelhas nativas do Brasil, falou sobre a situação crítica da espécies de abelhas nativas no Brasil e lamentou que “no Brasil, apenas o comércio de mel produzido por abelhas estrangeiras é regulamentado e reconhecido. O mel das abelhas nativas é proibido e o Slow Food está lutando no Brasil pela regulamentação e valorização dos produtos das abelhas nativas sem ferrão.”

O presidente do Slow Food, Carlo Petrini, encerrou a cerimônia do Terra Madre dizendo “estamos entrando no sétimo ano de uma crise que está afetando o planeta. Não se trata apenas de uma crise, é uma crise entrópica. […] Alcançamos a crise entrópica, e já não podemos mais desperdiçar. Para ultrapassar esta situação, precisamos mudar de paradigma; precisamos recusar a ideia de que o alimento é uma mercadoria; precisamos recusar qualquer abordagem que não valoriza o alimento, precisamos mudar este sistema alimentar, pois é um sistema crimonoso! Privilegiar o mercado em detrimento das pessoas é um crime que não podemos mais tolerar […] Este é o verdadeiro valor da nossa rede: cada um de vocês é um defensor e um guardião da biodiversidade. Vocês são os mais importantes defensores da biodiversidade”.

Para maiores informações, entre em contato com:

a/c Slow Food Paola Nano, +39 329 8321285 [email protected]

a/c Regione Piemonte: Tel. +39 011 4322549 [email protected]

a/c Comune di Torino: Tel. +39 011 4423605 [email protected]

Organizado pelo Slow Food, governo da Região Piemonte e prefeitura de Turim, em colaboração com o Ministério das Políticas Agrícolas, Alimentares e Florestais, o evento internacional Salone del Gusto está de volta a Turim, Itália, agora em seu 10° ano. Dedicado ao mundo do alimento, o Salone del Gusto reúne-se, mais uma vez, em um único evento, com o encontro internacional do Terra Madre, uma rede de pequenos produtores de todo o mundo. O Salone del Gusto e Terra Madre 2014 se realizará de 23 a 27 de outubro em Turim, no centro de convenções Lingotto Fiere, com a participação de mais de 1.000 expositores de 130 países